quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Proeza de Visconti



Não, não é possível sequer um momento diante das obras de
Eliseu Visconti, na Pinacoteca, sem deslumbramento.
Seu pincel, volta e meia, se assemelha a uma carícia
Plena de tela.

Um beijo sempre demonstra o milagre da ternura.

Cada nu é um retrato do corpo sem deixar de ser um
Retrato da alma – superfície e polpa do pêssego.

Um olhar jamais deixa de ser a beleza do mundo,
Que não fica aquém dos olhos.

Uma aquarela não surge em vão,
Não surge sem o extremo domínio de matéria tão arisca:
E que limpidez de execução!

Uma suave técnica de pastel sobre papel traz a gratidão
Que só a chuva traz.
Traz a bruma humana que só a paz traz de mistério.

E por que não ser um pouco de sonho enquanto a vida não dá
Nem amplo espaço, nem ar?
E por que não se embevecer com a aurora voluptuosa de
Tão pura e feminina pele?
E por que não ser o esquecimento sereno de uma
Travessura entre os galhos do arvoredo?

É preciso dos anos para alcançar tal maturidade.
É preciso de tal maturidade para alcançar os anos.

Sem vigor, nada se cria.
Sem ardor, nada se torna existência.
Sem amor, nada se comunga entre a Melancolia e a
Alegria.

Algum tempo perante Visconti amansa as tensões,
Afaga os temores,
Amálgama coração e alma...

Não há cor sem frescor.
Não há cor sem calor humano.
Não há cor sem doce rumor.

Devo dizer que não pinta apenas: pinta para fazer valer a pena
O que se pinta.
Devo dizer que não se comove somente: faz vagante o mundo
Em sua mente.

Seduz porque a arte é sedução: ação murmurante.

Faz, bem sei, da luz penumbra de veludo.
Faz, bem sei, da penumbra luz confidente de tudo.
Seu pincel eterno sabe ser pantera, sabe ser lobo
Sem nenhuma hesitação de todo.

E é assim que vou adiante e até o fim:
Sempre algo distante de mim.
Sempre sem saber do fim de meu fim,
Para ser o que Visconti perfuma de jasmim...


Fábio Padilha Neves

Obs: Obra de Eliseu Visconti.

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