terça-feira, 19 de julho de 2011
O que há de sublime em Georgia O’Keeffe
Georgia O’Keefe não é apenas uma grande artista que se encanta com a vida. É uma pintora que, sobretudo, percebe a sensualidade virginal das flores, a riqueza voluptuosa de suas dobras: sempre plenas de carícia. Não é de outro modo, a atração que cada cavidade sugere, como se fosse tangível as profundezas do Amor, como se a cor, ora clara ora opala, fosse toda essência e calor do corpo de uma mulher, como se o pincel fosse apenas o movimento sem cessar da ternura.
Nenhuma experiência de O’Keeffe origina-se sem pathos, sem esta extrema vitalidade diante da exuberância e intimidade das formas. Acredito que é por este motivo que as paisagens do deserto possuem algo de artificial, pois a força de seu trabalho consiste na doce proximidade, no denso mergulho que a distância panorâmica não possibilita. Tanto tenho fé em tal crença que até mesmo quando pinta a carcaça de um animal – o que tenho a tentação de chamar de “flor de cálcio” – descubro uma maior intensidade da artista pela maneira como penetra no âmago sedutor das formas, quase a ponto de perder os limites e contornos originais. Georgia, tal como a abelha, vai do néctar ao mel, do mel ao néctar, numa vigorosa viagem em busca do fundo ardoroso do mundo.
Fábio Padilha Neves
Obs: Obras de Georgia O'Keeffe.
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