terça-feira, 26 de julho de 2011

Murmurar diurno, murmurar noturno



Ainda que a compreensão do mundo exija de nós muito estudo, muito tempo diante dos livros, sei o quanto uma única imagem possui o poder de condensar a existência de uma tradição, de ir até mesmo no fundo do mistério humano. O que dizer então de uma exposição que a cada imagem pulsa a vitalidade de um bairro judeu como Bom Retiro ou de uma região como a Luz? Pois não há uma foto que não traga um tempo, um lugar, uma alma universal tão bem como nesta visita ao Centro da Cultura Judaica... Por certo, o silêncio de minha alma mesclou-se ao silêncio da sala, de tal maneira que ver uma foto de Marlene Bergamo ou de Bob Wolfenson, ou seja, ver uma foto de andarilhos líricos noite adentro ou ver a claridade sublime das pedras de uma rua, como vemos de cada um deles, respectivamente, tudo, sem dúvida, me leva a acreditar na beleza da vida.




Assim como não se pode deixar de notar o pranto que a boca engasga, o perfil mundano de pessoas que são devoradas pela substância noturna, assim como não se escapa, aqui e ali, de certa melancolia: a melancolia do trabalho ou do vazio que vem depois do trabalho, a melancolia que surge mesmo entre amigos ou aquela que fermenta por conta própria, como a de um homem solitário que atravessa o chão solar de uma rua, tal como vemos em Cristiano Mascaro. E é maravilhoso o modo como este fotógrafo encontra a poesia dos gestos, a soberba harmonia suspensa no tempo: uma simples porta metálica de loja que se retira do lugar original compreende tanta sutileza, tanta convicta expressão do duradouro no fortuito, que mal sei o que dizer e bem sei por que calo... É, com efeito, uma exposição que prima pela delicadeza do olhar, que vai fundo na superfície para não ser superficial e banal em seus enfoques, portanto vale a visita...


Fábio Padilha Neves




Obs: fotos de Marlene Bergamo e Cristiano Mascaro, respectivamente, graças à gentileza da d&a assessoria de imprensa e do Centro da Cultura Judaica.

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