domingo, 16 de janeiro de 2011
A correnteza das palavras
O empresário apura o tempo pelos segundos. O sofredor pela longa volta das horas. E o artista não conta nada, mas adora ouvir sinos.
Uma pessoa charmosa é aquela que seduz por sua discrição em não querer ser melhor que os outros; para ela basta um pouco de delicadeza sem promessa de felicidade.
Sinta calor e o crítico dirá que é o Verão. Sinta o mesmo calor e decerto o autocrítico dirá que é febre.
Diga-me com quem andas e te direi que, na verdade, tu andas só.
A afobação inquieta de falar algo interessante descoordena toda a coerência do diálogo.
Primeiro, eu persigo a palavra; depois se não fui feliz em expressá-la, é ela que me persegue.
Às vezes por traz de uma pessoa simpática há uma suave incompetência para si mesmo e terrível para os outros.
Péssima maneira de usufruir a arte: matar uma sede e, ao mesmo tempo, ter o desejo de saber quantos goles deu.
A semente é o primeiro exercício da planta antes de ser flor.
A maturidade é o reconhecimento de ser cego, sem ter medo, contudo, de usar o tato e os ouvidos.
Aquilo que nos pertence, se não tomarmos cuidado, se torna aquilo ao qual pertencemos.
Que prazer cheio de malícia há na fala do homem antes de começar a dança: - Dessa vez, eu conduzo...
Quem já foi capaz de abandonar um filme de cinema, enquanto estava perto do fim, sabe o que é coragem.
Não se enganem: a cartomante lê o rosto antes de ler a palma da mão.
As pessoas não respondem às nossas perguntas; respondem de acordo com a imagem que eles supõem que fazemos delas.
Nenhum pensamento vive intensamente sem a emoção, da mesma forma que quando vamos comer algo, não se mastiga com apenas um lado da boca.
Ser vaidoso é um problema para o comediante, pois raro é aquele que se convence do fato de uma piada não ter dado certo.
Toda fragilidade da mente humana é extensa como um campo com ovelhas; e o mais duro é que há uma raposa branca durante o dia e negra durante a noite.
Qualquer um já teve a ilusão de deter a água do mar num aquário e, assim, acreditar que o oceano será mais calmo.
Quando me pedem para ser crítico, digo que sou poeta. E quando me elogiam de poeta, faço uma singela autocrítica.
Só o farmacêutico é capaz de amenizar as dores do ser humano: é o único que entende tanto a letra do médico como do poeta.
A vaidade embriaga de tal forma que não é raro dar ressaca.
Talvez em todo velório de um grande escritor haja aquele novato que tem o temor de não estar vestido de acordo com o critério do defunto.
Um elogio, muitas vezes, consiste numa farsa que só é dita quando, na verdade, um se acha melhor que o outro. Eu, por via das dúvidas, jamais me auto-elogio.
Somos todos como jornalistas principiantes e esforçados: a nossa fonte é sempre mais segura.
Faça um teste curioso: tente alcançar com o garfo uma azeitona, num pote semi-vazio. Pois bem, é a mesma sensação que temos quando queremos encontrar um político decente...
Até o simples fato de aceitar ou não a correção ortográfica do Word já é uma questão de personalidade.
Às vezes, meu pensamento possui mais carvão do que brasa.
Todo equilibrista detém um segredo: enquanto uma perna o sustém, a outra prepara, no ar, o que será o próximo passo.
O mendigo crê que um dia o gargalo da cachaça ainda há de ser boca de moça.
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