quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Alumbramento







O beijo é a única oportunidade de desfazer um sorriso, sem ficar triste.


As mãos, que se tocam, trocam cartas de amor que são seladas a cada novo endereço de comunhão.


O corpo feminino é um alento tão denso quanto o vento do mar, já que é quase um risco fechar os olhos e perder o juízo.


A estrela é um beijo que não se interrompe.


O beijo é a última concessão divina para aqueles que não sabem dançar.


Do Amor, tal como do perfume, sempre aguardamos o cheiro que fica um pouco depois da primeira borrifada.


Sou sem dúvida a tarraxa
Do brinco de uma mulher
Enquanto alguém me escracha
Só ela acredita em meu dever


Foi a partir do momento em que Odisseu se amarrou no mastro que as sereias inventaram o fetiche.


O relacionamento é como uma cidade bem perto das dunas: corre sempre o risco de ser soterrada por causa do longo convívio.


Sete horas no salão de beleza é o que cansa qualquer beleza.


Dizem tanto sobre o Amor à primeira vista, porque esse é o único dos sentidos que consegue exercer as suas funções. Os outros se encontram em curto-circuito.


A linguagem sensual dos enamorados é dita só ao pé do ouvido, para que ganhe o corpo todo aos poucos.


Sem seus beijos, a vida é como um rio cuja foz está seca. Sem seus abraços é nem ao menos reconhecer que ali houve foz. É descobrir um deserto sem sua voz.


Sei muito bem que depois de um grande beijo, toda palavra é vã. Sei, contudo, que toda palavra deixa de ser vã, na falta de um beijo.


O primeiro beijo, entre amantes, é apenas um aquecimento, um ensaio de anseios, uma vertigem de salivas. Os beijos seguintes são como uma ventania de verão ou um pacto sincero entre fogo e ar quando aquele deixou de ser apenas brasa.


A dança aprende da música a fluidez. A música aprende da dança o valor do peso: a capacidade de ser do chão e ser do ar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário