domingo, 26 de setembro de 2010

O Inferno de Dante ao avesso






Célia Saito faz um trabalho que além de ser plasticamente bem realizado, traz também um tema polêmico e nada inocente, como se pode pensar quando visto de longe. A certa distância, o que vemos, de fato, é um turbilhão de cartas que ascende como um furacão impetuoso que começa ainda tímido do chão para ganhar, à medida que sobe corpo e vulto. Tudo através de cartas que se encrespam que se misturam sem haver, a princípio, qualquer distinção mais detalhada. Vale notar que a base de onde as cartas emergem vem de um livro, o que talvez seja a chave para entender o trabalho.
Ainda mais pelo fato de as cartas terem como conteúdo cenas de sadomasoquismo, ou seja, um tema que veio à luz depois de a artista ter lido A História de Ó. E assim juntando forma e conteúdo tudo fica mais claro, pois aquela força abrupta do furacão vem impregnada de um erotismo tortuoso que dá a impressão de vir à tona tais como os círculos do Inferno de Dante, com uma diferença: no Inferno de Dante o pecado leva ao eterno sofrimento e quanto mais fundo você se encontra, mais doloroso será; enquanto, na verdade, o prazer erótico aqui retratado leva ao êxtase, à ascensão, por mais sofrido que seja; temos então um Inferno ao avesso, uma busca de prazer através da dor; basta, portanto, chegar mais perto da obra para ver que neste mundo sadomasoquista que ela apresenta, de fato, não há nada de puro. Assim, percebemos que todo furacão visto de longe é imponente, e observado de perto é terrível, pelo menos, para quem não é furacão.

Obs: Fotos de Regina Azevedo e Marcia Gadioli, respectivamente.

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