segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O que fica de nós dois



Acredito que toda a carta de despedida vai surgindo aos poucos, enquanto a memória recorda cada gesto de delicadeza que existiu entre nós. No último momento que te vi, desejei olhar de relance, mais uma vez, para o interior de sua casa, ali, bem ali, onde você deixou sua sapatilha, ali onde seus brincos sempre se encontram, no espaldar do sofá, ali onde te tive em meus braços, e cada detalhe teu ainda me faz feliz. Talvez ainda reste o peso de meu corpo sobre os travesseiros, talvez quando entrar pela cama o tamanho dessa será demais, talvez seu ouvido tenha, por um momento, se acostumado com a calidez de meu braço, talvez meus olhos tenham entendido os seus mesmo na penumbra... Talvez minha boca tenha aprendido o verdadeiro silêncio com a sua... Talvez seus cabelos sejam o que faltava eu descobrir da primavera... Meus ouvidos, sem dúvida, vão sentir falta de sua voz, da louca ternura que é te ouvir sorrir, da sua respiração, aquele mar calmo que não tem fim... Minhas narinas serão mais sensíveis à dama da noite, e a qualquer flor noturna que se esconda nas curvas do tempo e me lembrem o perfume do teu nome. Não me esquecerei das vezes que abriste a porta interna do meu carro para que eu entrasse. Não me esquecerei o lance de degraus do seu prédio que descia para te encontrar, e a euforia de te ver à porta a me esperar. Não esquecerei o seu beijo, o modo como ardentemente pressionava os meus lábios junto aos seus - aquela tessitura macia que mudou meu jeito de sentir minha própria pele. Não me esquecerei o primeiro sorriso que me deste no cinema do Mube, e que desde então me faz tão bem. Ficarei com saudade de suas mensagens e da felicidade que tinha em ti mandar uma... Mesmo que seja uma carta de despedida, sei que minha vida se enriqueceu com o fato de ter a ti por perto, e que se não pude atravessar todo o oceano de tua existência, ao menos pude conhecer o frescor de tua alma e, decerto, dar boas braçadas ao longo da extensão costeira de suas águas... Jamais esquecerei o modo como me fez feliz, e por mais curto que tenha sido nosso namoro, nada substitui o ardor sincero desses pequenos longos momentos...

Beijos nessa boca que já foi minha,

Fábio.

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