Se há algum trabalho que, decerto, faz uma crítica mordaz à nossa vida política, não se pode deixar de falar sobre o trabalho de Felippe Moraes. Quem, senão ele, foi capaz de a partir de um mínimo espaço, trazer tantas reflexões? Felippe descobre que certos trabalhos são feitos para certos lugares, que um lugar já sugere uma atmosfera, própria para uma imaginação que fermenta algo latente e pleno de sugestões.
Nada é tão vívido como entrar em sua estreita sala onde a primeira sensação táctil vem dos pés, parcialmente, soterrados pela areia que divide espaço com folhas esparsas e de aspecto triste, alienadas de sua condição natural, o livro. Por certo, uma sombria imagem de como as palavras e seu legado são tratadas com descaso. E mesmo o fato de haver uma harmonia de arranjo entre as folhas da parede, mal sabemos, porém, qual vai ser a próxima a permanecer, indefesa, no chão. O artista soube colocar de tal forma as folhas, que temos curiosidade de observá-las, mesmo que sejam um tanto desconexas, muito porque, na verdade, não se quer narrar uma história com começo, meio e fim; talvez porque na história de nosso país haja mais hiatos e pontos obscuros que uma verdadeira sensação de continuidade.
Portanto, é aquela areia revolvida, aquela opressão sem janelas, aquelas lâmpadas ofuscantes que, ponto a ponto, são parte de nosso Brasil, é tudo aquilo parte de algo que condiz com nossa realidade, e, por mais que o nosso território seja imenso, é ali, naquele pequeno espaço, que vamos encontrar a estreiteza da mentalidade da maioria daqueles que nos governam...
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