terça-feira, 18 de maio de 2010

Na tranquilidade da sombra




Antes mesmo de ocorrer o protestantismo, Andrea del Sarto já trazia de um modo muito pessoal a sua visão da Bíblia. Mais do que o desejo de alardear a cena de Madonna com o menino Jesus, e na mesma linha de pensamento que A Virgem dos Rochedos de Leonardo da Vinci, Sarto busca compreender a atmosfera íntima de tal cena, como se aquela sombra que os envolve fosse essencial para a delicadeza carinhosa que Maria tem com o filho. É, portanto, naquela cálida presença que Jesus recebe os primeiros cuidados, longe de qualquer adversidade externa, com aquela voz que sussurra seu nome sem a mínima rispidez, enquanto os anjos, cautelosos, dão a impressão de conduzir o longo manto de Maria para que não tropece.
Os movimentos são todos macios como a queda de um travesseiro e aqueles que ficam ao redor de Maria e Jesus preservam o silêncio reinante. Não há nada de dramático ou premonitório em suas atitudes, nenhum incidente parece perturbar a cena. O único contido alvoroço diz respeito aos anjos e a liberdade singela com que orientam as próprias asas. Quantas vezes vimos Maria à luz do dia, pronta e disposta a amortecer qualquer tombo de seu filho. E, então, que belo contraste sentimos através de Sarto quando vemos uma outra faceta daquela vida tão preciosa. Assim passamos a entender melhor o que se passou com Cristo, sem perder um minuto sequer de sua passagem na Terra, seja no burburinho da rua que outros já pintaram, seja no doce acalanto doméstico, antes de ficar mais velho e passar por todas as ásperas provações que lhe marcarão a carne e a alma.
Com efeito, é muito sutil o modo como Sarto se apodera daquela imagem, mas fica, sem dúvida, para sempre, o vigor com que compreende aquela vida de respiração serena e, por certo, momentaneamente feliz...

2 comentários:

  1. A sua abordagem das obras de arte é muito ruim. Sinceramente. Não quero saber se "Os movimentos são todos macios como a queda de um travesseiro e aqueles que ficam ao redor de Maria e Jesus preservam o silêncio reinante. Não há nada de dramático ou premonitório em suas atitudes, nenhum incidente parece perturbar a cena. O único contido alvoroço diz respeito aos anjos e a liberdade singela com que orientam as próprias asas. Quantas vezes vimos Maria à luz do dia, pronta e disposta a amortecer qualquer tombo de seu filho."

    Essa abordagem é descritiva e subjetiva.

    Me fale algo que não sei e que não vejo.

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  2. O leitor sensível é aquele que se deixa envolver por aquilo que talvez soubesse em parte, mas não naquele ritmo e cadência tão particular.

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