terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
Um doce alento
O Trio 3-63 trouxe aos ouvintes uma lufada fresca de vento. Foi assim, sem dúvida, através de um pandeiro magnífico que sem cessar acompanhava com sua batida a pulsação de nossas veias, num ritmo que variava entre o vigor um tanto dançante e aquela marcação lenta e preparatória para a delicadeza da flauta e a densidade do dedilhado no piano. Depois desse início insinuante cada movimento era suave e chamava para si uma resposta doce, de prontidão quase confidencial.
Nada era mais motivador do que ouvir a flauta no seu vôo que nunca se distancia muito do mar (piano e percussão) para vez por outra mergulhar de leve seu rosto com o fim de refrescá-lo. Decerto, por vezes me pegava a ouvir somente o rumor das águas e ver como suas ondas se estendem amplas por toda a praia sem nunca esquecer por completo aquela ave de asas longas e abrasadas pelo fim da tarde.
Além disso, a harmonia entre eles era perfeita e bastava um furtivo, mas decidido olhar para saber quando começar e, decerto, havia algo neles, certa confiança no que faziam, para que, de súbito, todos parassem. Bonito era também ver como em determinado momento a flauta se aproximava mais da percussão numa intimidade e malícia de dois namorados que encontram um vão entre muro e casa e lá sentem a paixão dos lábios. Pois bem, o ardor é notável em todos os instrumentistas, ou seja, cada nota de piano assume de forma arrebatadora a sua riqueza melódica, cada sopro de flauta encontra um modo delicioso de se infiltrar entre as notas do piano e a percussão é o chão onde a leveza das bailarinas pisam...
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