segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Delírio pleno de beleza



Na vida, há momentos em que tudo é belo. Há momentos em que tudo merece a mais pura serenidade. Há momentos em que devo toda minha alma ao enlevo da arte. O que dizer então dessa exposição de Marcello Grassmann, no Espaço Cultural Citi? O que dizer desse arrebatador significado do mundo? Grassmann não pretende revelar apenas a Beleza: revela, não de outro modo, o relâmpago entre o belo e o feio. Revela, não sem mistério, a verdade entre o mel e o fel. Revela, jamais sem gana, o furor entre o lírico e o trágico. Traz à tona, aqui e ali, o que há de sublime em soberbas beldades da imaginação, diante do horror pestilento de um monstro ou peixe quase amorfo. Tal acontecimento não fica sem o lampejo radiante e feminino dos olhos. Não fica sem o frescor de orvalho dos lábios. Não fica sem o vigor primaveril dos seios. Não fica sem o ardor penumbroso da pele.




Grassmann desvenda a alma humana como se os vincos no metal fossem da mesma intensidade de um escultor rente ao mármore. Sempre prestes a deixar, para a eternidade, o traço irremediável, o traço irrevogável, o traço irrepreensível, o traço dos traços. Não teme, bem sei, a morte: não teme a escuridão absoluta, pois encontra no breu a condição luminosa de suas gravuras. Encontra na possibilidade noturna de suas figuras a aurora do luar. Encontra no derradeiro poder da noite a noite sem fim. Permanece firme: sem desistir da vida, sem evitar a morte – pleno de tempestade e bonança; pleno de vulcão e húmus; pleno de drama e alegria. Assim, venham ver obra tão impetuosa, obra, por sinal, tão desafiadora do cosmos!

Fábio Padilha Neves


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