domingo, 6 de junho de 2010

No ardor dos braços



Foi devido ao Grupo Corpo e seu espetáculo chamado Lecuona que o Cupido sussurrou tal título. Quem já teve nos braços um corpo feminino, talvez saiba do ardor envolvido, só não sabe o quão prolongado pode ser e é a dança a única capaz de trazer a fragilidade da pele para a firmeza dos braços com tanta intensidade. Sem ela, seria impossível penetrar na vivacidade do Amor, uma nuca seria apenas parte estrutural do corpo, e não a promessa de felicidade que se persegue até o fim da música com as mãos... Se uma mulher me agarrasse tal como vemos nesta canção de Ernesto Lecuona, eu entenderia melhor o sentido de existir uma flor como a dama da noite. Se girasse ao meu redor, enquanto roça as suas saias, entenderia melhor os anéis de Saturno.
Lecuona é uma dança para aqueles que não sabem dançar, como eu, mas que admiram a vitalidade de uma coreografia, que reconhecem a sensualidade delicada que o corpo possui. Não há um movimento que não tenha a maturidade de um bom vinho, não há um olhar que não seja todo carícia. E o Amor aprende com tal simplicidade, pois o casal de dançarinos procura no corpo do outro os vãos que pedem para ser preenchidos. E a distância que, às vezes, se abre, entre um e outro, nunca cria abismos, é apenas uma breve oportunidade de perceber melhor o outro, de ouvir naquele estreito espaço a força das cataratas, o vigor carnal de dois corpos que dançam...
Mais do que apenas ler as páginas do corpo, o coreógrafo Rodrigo Pederneiras grifa as passagens mais saborosas, e confere à coreografia uma doce beleza. Nada é, ao mesmo tempo, tão vívido e tão cheio de energia; só mesmo o beijo de dois apaixonados traz tanto frêmito e tanta sede de viver. Depois de ver um vídeo, como este, no You Tube, talvez a vida volte ao normal, o que não volta ao normal é o Amor...

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