terça-feira, 12 de janeiro de 2010

A precisão de Amilcar de Castro




Amilcar sempre foi conhecido por suas esculturas que possuem uma solidez e quase aspereza que lhe são peculiares e mesmo que mude de material, ainda assim perpetua suas principais características, haja visto os trabalhos que executa em litogravura, pois, por mais que se perceba o uso de largos pincéis e uma tinta especial que se esparrama deixando seu rastro, ainda assim o domínio de suas qualidades plásticas e o vigor geométrico que se cria, possibilita ardentes correspondências entre suas faixas negras.
São faixas de densa consistência que absorvem as regiões brancas para dentro de seus espaços, mas de tal modo equilibradas que nenhum detalhe é mais ou menos importante. E, sem dúvida, à medida que se apodera do verdadeiro valor dessa linguagem, tem o poder de suscitar silêncios permeados pelo som inequívoco e preponderante de um violoncelo, tal é a impressão que suas gravuras sugerem.
Decerto, há momentos em que as faixas se imbricam de um modo tão intrincado que quase se perde para sempre o lampejo de branco que ainda ali distinguimos, como se o artista conhecesse as forças abruptas de um buraco negro que traga a luz de estrelas incandescentes. Com o tempo, aquela solidez que antes se conhecia só através de suas esculturas, passa a ser discernível com total veemência em suas gravuras, uma vez que cada “rasgo gráfico” se afirma sem a mínima fragilidade e hesitação, pois se Michelangelo via a materialidade escultórica do mármore em tudo o que fazia; Amilcar, não menos intenso em seus projetos, arranca de cada um de seus trabalhos gráficos uma solidez de formas própria do ferro.

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