quinta-feira, 30 de julho de 2009

O traço vivaz de Saul Steinberg


O esboço é normalmente o princípio de algo que ainda se pretende aperfeiçoar; pensa-se na pintura que virá depois, no passo árduo e prazeroso que se segue. Isso até que conhecemos o trabalho de Saul Steinberg, que procura, antes de tudo, a vivacidade do traço; a busca pelo esboço elaborado que já é obra final. Com efeito, ele só precisa de caneta tinteiro e nanquim para nos seduzir com sua linha irresistível e sonhadora, isenta de um fim adequado ou tradicional; a linha pode sugerir tanto sobre o ser humano, que cada vez que vemos um de seus desenhos, saímos revigorados.
Enquanto uns falam “Faça isso bem feito”, Saul fala “Faça isso mesmo sem jeito”, ou seja, encontre a sua voz, o seu timbre em meio aos outros. Não se pense, com aquela frase, que haja um ato displicente; pela postura quase pensamos nisso, mas quando vemos o ato, negamos. Steinberg tinha nas mãos fios de lã e, em vez de tecer, ele achou certo percorrer o espaço com tal linha, compreendê-la em seu poder de sussurrar, à medida que se fala. Agora, gostaria que alguém me desse uma definição da mulher e do homem com tanta verdade e simplicidade como ele fez. Saul sabe dar valor ao branco do papel quando há tinta...

domingo, 5 de julho de 2009

Paris não é Paris sem Doisneau




Quem deseja conhecer Paris e, às vezes, não tem como, não fique triste, pois Robert Doisneau, em suas fotos, mostra toda a magia que há lá. Doisneau não é o primeiro artista que se fascina pelo beijo; antes dele, Rodin teve nas mãos a argila e através dela o moldou para sempre e Klimt, de forma vívida, também o fez na pintura, mas talvez o fotógrafo tenha sido o primeiro a apreender com tanta verdade o beijo na rua.
O beijo, por mais que seja algo natural e que aconteça em qualquer lugar, é como a Lua que, quando surge, derrama sua luz por quem passa. Sem dúvida, o relógio é para os apressados, o que o sino é para os enamorados... Doisneau estava sempre em busca da delicadeza e assim vemos um casal que não resiste ao beijo, enquanto a vida continua; ou uma mulher de quem só se vê as pernas e de salto, no meio-fio... Doisneau não fotografa pessoas e sim o Amor latente nelas, ou antes, se sai melhor quando isto acontece; não fotografa sem se contagiar pelos pequenos detalhes, sem os quais a vida deixa de ser o que é: Enlevo...