quinta-feira, 17 de novembro de 2011
Entre o ato de ver e ouvir
À medida que me aproximo das gravuras de Fayga Ostrower, tenho a mesma sensação de chegar bem perto das cataratas de Foz do Iguaçu. É, sem dúvida, a partir dos ouvidos que se reconhece a abundância de beleza. Até que os olhos, quando se detêm sem pressa na qualidade gráfica, não se intimidam mais com a delicadeza melódica das linhas, nem temem o aconchego das cores – plenas de nuances, nem sabem que um dia houve caos no mundo – tal a insuperável harmonia. São pequenas gravuras, isso ninguém nega. No entanto, da dama-da-noite, todos conhecem o tamanho da flor, todos conhecem o perfume... Quiçá, ninguém é tolo de não saber o que é uma linha: talvez só eu mesmo fosse um pouco tolo, porque dessa possibilidade de sedução jamais vi. Formas, já vi muitas; perdi a conta de quantas. Que me façam sonhar foram tão poucas... Que me povoem de luar foram o amor e as gravuras de Fayga...
Sem nenhuma fuga de enlevo, sou a gratidão de meus olhos quando me deparo com as vibrantes cores de suas serigrafias. Como seria bom se eu trouxesse sempre comigo o que há de impalpável nestas cores... Como seria feliz se eu aprendesse a assobiar a intensidade musical ali presente... Como seria mais leve se meu horizonte fosse por toda vida assim – alegre e triste... Como seria melhor orador se minhas palavras absorvessem o mel latente de tais serigrafias... Decerto, ainda não sei se tenho mais algo a dizer: apesar do desejo, deixo que o ar se desfaça, fico apenas com a saliva. Deixo as pálpebras suspensas, fico apenas com o lampejo. Deixo que os ouvidos retomem o rumor comum, enquanto ainda sou todo silêncio...
Fábio Padilha Neves
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